quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Especial João Turin

Especial João Turin
10/12/2002

De formação acadêmica, o artista iniciou seus estudos na Escola de Artes e Ofícios de Antônio Mariano de Lima em Curitiba, onde atuou como aluno/professor.
Considerado o precursor da escultura no Paraná, João Turin deixou um considerável acervo que inclui pequenas esculturas e baixos-relevos, pinturas, monumentos históricos e outras obras em locais públicos da capital e municípios paranaenses. João Turin destacou-se e é reconhecido como escultor animalista sendo premiado no Salão Nacional de Belas Artes no Rio de Janeiro em 1944 e 1947.

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Aos 27 anos com auxílio do Estado, seguiu para a Bélgica e especializou-se em escultura na Real Academia de Belas Artes de Bruxelas, sob os ensinamentos do reconhecido mestre da estatuária, o belga Charles Van der Stappen. Por merecimento curricular, Turin conquistou como prêmio um ateliê, carvão para aquecimento e modelo vivo. Dos diversos trabalhos realizados na academia, destaca-se a obra "Exílio". Técnica: Escultura em bronze - Tamanho: Aproximadamente 2,20m de altura - Localização: Ignorada - Obra com mais de 2 metros, realizada na Real Academia de Belas Artes de Bruxelas em 1910. Participou do salão dos artistas franceses em Paris em 1912 e recebeu menção honrosa. Embora existam algumas informações mais antigas de que essa obra se encontra no paço municipal em Bruxelas, esse não é um fato comprovado até o presente relato.

Retorna ao Brasil em novembro de 1922, centenário da Independência e expõe no Rio de Janeiro a estátua de Tiradentes, trabalho executado em Paris, nesse mesmo ano e que recebeu boas referências na imprensa francesa.

João Turin nasceu em Porto de Cima, município de Morretes - Paraná, no dia 21 de setembro de 1878 e faleceu em Curitiba no dia 9 de julho de 1949, aos 70 anos.

Em 1998, em comemoração aos 120 anos de nascimento do escultor (1878), foi lançado o livro "A Arte de João Turin", projeto da sobrinha-neta do artista, Elisabete Turin, contando a trajetória do homem e do artista que ele foi. O livro também traz textos do professor e crítico de arte, Fernando Bini; do artista plástico Loio Pérsio e do doutor René Ariel Dotti, responsável pela instalação da Casa João Turin, na sua gestão como Secretário de Estado da Cultura.

Fragmentos de uma passagem

Corria o ano de 1947. O Marechal Eurico Gaspar Dutra vencia as eleições para a presidência da República, pelo PSD. O povo também elegia governadores para todos os estados e prefeitos para todas as cidades brasileiras. A imprensa noticiava o acontecimento máximo do ano, a visita ao Brasil do Presidente dos Estados Unidos, Harry Trumann.

No Paraná, a gente do linguajar duro, do "leite quente", elegia, pelo mesmo partido de Dutra, Moisés Lupion, governador do Estado. O café ainda era a base da economia brasileira.

João Turin recebia duas premiações, a medalha de Ouro no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro com a escultura "Luar do Sertão" e concomitantemente, no Salão Paranaense em Curitiba, com o busto do mestre e filósofo Dario Veloso.

No tempo em que os salões ofereciam medalhas, a de ouro era a láurea e ambição maior do artista. João Turin refere-se a essa conquista e a sua viagem ao Rio de Janeiro em um dos inúmeros manuscritos que deixou.

"Saí de Curitiba dia 15 de novembro de 1947, às duas horas e vinte minutos no avião da Cruzeiro do Sul, com meu tigre, para expô-lo no Salão Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Cheguei às quatro horas e vinte e cinco minutos no Rio. Em toda minha vida só vi um tapete branco sob meus pés. Estava a três mil pés. Só pude ver o Cristo do Corcovado quando cheguei no Rio. O Último dia de entrega dos trabalhos estava fixado para o dia 15 de novembro e, sendo feriado, só pude entregar o tigre na segunda-feira, dia 17. Exposto na sala de entrada do Salão, não podia estar em melhor lugar. Obtive a Medalha de Ouro. Antes tarde do que nunca. Possuísse os meios que tenho hoje, quando estava em Paris, tinha certamente aberto um glorioso caminho, pela vontade e amor que tinha de produzir. Jovem e cheio de vida, tinha que trabalhar para outros que obtinham medalhas no Salão com as obras retocadas por mim. Assim mesmo, depois de tantos anos de esperança, não de receber medalhas, sim de fazer alguma obra que me satisfizesse completamente e que ainda não cheguei a este gozo e satisfação pessoal. Medalhas, diplomas, elogios, me entristecem, porque não fiz nada que possa me satisfazer..." (Doc. 131 s/d JT - Arquivo da Casa João Turin)

Em 1944, João Turin recebeu no Salão Nacional do Rio de Janeiro com a escultura "Tigre Esmagando a Cobra" uma Medalha de Prata. O artista vendeu as duas obras à Prefeitura do Rio de Janeiro. Ambas foram colocadas, em espaços públicos da cidade. "O Tigre Esmagando a Cobra", no Zoológico da Quinta da Boa Vista e "Luar do Sertão" na Praça General Osório.

Em Curitiba uma reprodução de cada obra foi colocada, a primeira na Avenida Manoel Ribas, entrada do Parque Barigüi e a outra na Avenida Cândido de Abreu, próxima à Prefeitura.

João Turin permaneceu no Rio de Janeiro algum tempo para resolver os trâmites burocráticos referentes à venda das obras. Todas as vezes que ia ao Rio de Janeiro hospedava-se na casa do pintor Theodoro De Bona, marido de sua sobrinha Argentina.

Em 1947, a família De Bona vem para Curitiba passar as férias de verão e Turin, como de costume, por necessidades profissionais ligadas ao Salão Nacional do Rio de Janeiro, hospeda-se na casa da sobrinha, responsabilizando-se pela segurança da residência e pelos cuidados com o cachorro, apelo constante de De Bona nas cartas enviadas a Turin.

O calor intenso do Rio de Janeiro de 40º à sombra, abalou a saúde de Turin. Mesmo sem concluir as negociações com a Prefeitura, o artista retornou a Curitiba no início de maio de 1948. As negociações da venda da obra só foram ultimadas em setembro. De Bona e Erbo Stenzel resolveram os assuntos pendentes.

A década de 40 foi de muito trabalho e compromissos para o artista, o que por um lado lhe deu segurança financeira e notoriedade, por outro, agravou sua saúde já debilitada. Era visível o abatimento do escultor, havia perdido peso e seu coração cansado dava sinais de alerta.

João Turin morreu trabalhando, deixou obras inacabadas. "As Quatro Estações", encomenda do Governador Moisés Lupion, atualmente, reproduzidas em bronze, ficaram no cavalete e quem as retocou foi o escultor Erbo Stenzel.

Nos poucos dias que antecederam à sua morte, recebeu o comunicado de que havia obtido o primeiro lugar no concurso Pró-Monumento a Vicente Machado. Os bustos de João Gualberto, Dulcídio Lacerda e Sarmento de Morais, que deviam ser entregues em curto espaço de tempo para a Polícia Militar do Paraná, nem foram iniciados.

João Turin desejava viver mais. Prognosticou sua morte para 1972, no projeto de seu próprio jazigo. Não deu certo, a matemática da vida subtraiu-lhe vinte e três anos.

Queria fazer muitas fontes para Curitiba, "Dos Amores", "Do Primeiro Beijo", "Da Beleza", "Da Inocência", "Dos Curiosos" e muitas outras. No Paraná mais de vinte monumentos são de sua autoria.

"A arte é expressão de nossa vida, de nossas paixões, de nossos vícios e virtudes", dizia ele. Afirmava também que os artistas que se revoltaram contra o jugo dos pontífices foram os responsáveis pela liberdade e a renovação da arte.

Para ele, depois de Monet e de Cézzane, tudo se anarquizou e não podia admitir a falta de senso crítico daqueles que aceitavam tudo como arte.

Indignado com a demolição do antigo Teatro Guaíra, em 1947, desejou construir um teatro de estilo para Curitiba. Embora o arquiteto João De Mio lhe dissesse em carta para não se preocupar com isso, pois Curitiba estava suja, as ruas malconservadas, a cidade não merecia um teatro, existiam outras prioridades. O Pavilhão Carlos Gomes está muito bom, dizia De Mio.

A mesma indignação causou a demolição de seu ateliê, no início da década de 50. Construído de acordo com o seu projeto e com características decorativas arquitetônicas próprias, onde a fauna e a flora paranaense e o índio se compunham em perfeita harmonia. Os motivos eram nossos, não precisávamos copiá-los dos modelos europeus, afirmava Turin.

O pinheiro foi o ícone do estilo paranaense, criado por Turin, e pelos pintores Lange de Morretes e João Ghelfi.

O Salão Paranaense na antiga sede do Clube Curitibano na Rua XV de Novembro e a residência do doutor Leinig (detalhe) na Rua José Loureiro, ambos em Curitiba, também não foram preservados.

João Turin foi um homem de boas relações e amigos. Era admirado pelo seu temperamento alegre, por sua simplicidade e franqueza, desde os tempos da Europa.


A Casa

A Casa João Turin foi criada em dezembro de 1953, pela Lei Estadual 1538, com a finalidade de manter o ateliê do escultor, preservar seu acervo e cultuar a sua memória. Lamentavelmente o projeto do Deputado Júlio Rocha Xavier não se concretizou, a Lei permaneceu esquecida por trinta e seis anos em algum arquivo público do Estado. A propriedade foi vendida e o ateliê do artista demolido.

Em 1987 o Secretário de Estado da Cultura Doutor René Ariel Dotti preside a campanha em favor da instalação da Casa João Turin promovendo uma exposição dos trabalhos do artista no Museu de Arte Contemporânea.

No dia 10 de janeiro de 1989, a Casa João Turin é instalada no imóvel desapropriado pelo Estado na Rua Mateus Leme, nº 38, no setor histórico do Largo da Ordem, em Curitiba. O prédio que abriga a Casa é uma residência de estilo neoclássico, construído no início do século. Mantém a bela arquitetura original chamando a atenção dos transeuntes.

Além da exibição permanente do acervo, a Casa João Turin promove exposições temporárias de artistas escultores e projetos de interação museu/escola.

A cada 2 anos, ocorre a Mostra de Escultura João Turin, certame destinado especialmente aos artistas que trabalham com arte tridimensional. É um evento oficial do Estado do Paraná, promovido pela Secretaria de Cultura e organizada pela Casa João Turin.


Obras do Artista

Constituem-se de esculturas em gesso e bronze e de algumas poucas e pequenas peças em argila e plastilina. Apresentam-se sobre a forma de baixos-relevos, moldes, esculturas plenas, desenhos, estudos e projetos. Retratam cenas de gênero, personalidades históricas, índios e a fauna e a flora paranaense. Fazem parte do acervo pessoal do artista centenas de correspondências e manuscritos.

Com relação à pintura, Turin dizia não estar competindo com os pintores, pois era à escultura que ele se dedicava e sempre se apresentou como escultor. O artista deixou um considerável acervo de pinturas; muitas encontram-se espalhadas em coleções particulares e 170 encontram-se no acervo da Casa João Turin.

Quatro Estações
Foi uma das últimas obras realizadas pelo artista. Encomenda do governador do Paraná, Moisés Lupion para ornar um chafariz em sua residência. Com a morte do artista em 1949, o negócio não se concretizou.

A obra ficou no cavalete e recebeu os últimos retoques do escultor Erbo Stenzel.
Em 1995 foram reproduzidas duas cópias em bronze (projeto municipal).

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