quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

O Seblante de Curitiba

O Seblante de Curitiba
12/05/2003
Como um artista, esculpiu o semblante da cidade. Construiu a fisionomia urbana de Curitiba. Porque exerce um desses ofícios em que o criador mantém eterna a relação com a obra.

O curitibano pode desconhecer, mas esse arquiteto projetou o cenário de boa parte de nosso mundo cotidiano: montou palco para o drama, à Ópera ou para Comédia; preparou lugar para os viajantes, edificou um complexo só para estudantes, construiu o espaço ocupado pelos Prefeitos e até ajeitou o escurinho de algum cinema.

E na verdade, nem é arquiteto. Optou pela Engenharia Civil. É que naquele tempo o engenheiro projetava, desenhava, fazia e acontecia na Arquitetura. Nesse caso, também fez acontecer a cidade.

Não é à toa que Curitiba tem a "cara" dele. Talvez não tenha o mesmo humor, já que Rubens Meister gosta de um papo e não dispensa um sorriso. Mas tem sua fachada. Difícil encontrar o cidadão que nunca tenha colocado algum pé na obra dele. Elitismos à parte, porque ele não fez só o Teatro Guaíra. Você sabe de alguém que nunca foi a Prefeitura? Pode saber...

Mas, e de alguém que nunca pisou na Rodoferroviária, nem que fosse só para comprar passagem, buscar um parente ou até acompanhar o vai-e-vem dos ônibus? (Tá certo que rodoviária não é aeroporto, mas...) Vamos além. Meister fez o Auditório da Reitoria, projetou o Teatro do Sesi e o Sesc da Esquina, a Caixa Econômica da Praça Carlos Gomes e foi o responsável pela primeira etapa do Centro Politécnico. Fez o projeto de restauração da parte interna do Palácio Avenida e de residências como a do Cônsul da Áustria e do empresário Manoel Rosemann. Sempre assessorado pelo sócio, o arquiteto Elias Lipartin.

Mas o inusitado mesmo foi a construção do Guaíra. Recém-formado, com 26 anos, Rubens Meister trazia na bagagem o prêmio do concurso para a criação do Panteón da Lapa, que dividia com o arquiteto Romeo Paulo Costa, responsável também pelo projeto da Biblioteca Pública do Paraná. Era o final dos anos 40 e o Governo buscava a melhor forma para o “Teatro Oficial do Estado”. Ninguém suspeitava que ele iria se converter no famoso Guiarão.

O projeto de Meister, considerado “avançado”, foi classificado em terceiro lugar. Os cariocas levaram o prêmio, mas não deram forma para o Teatro. A polêmica era grande, apoiavam a idéia de Meister. Mas também se pedia Arquitetura Tradicional e o Guairão esperou o Governo de Bento Munhoz da Rocha Neto para sair do papel, com o projeto de Meister. Até a inauguração apresentou imprevisto. Foi em 54; o Guairinha ficou pronto primeiro.

O governador Munhoz da Rocha Convidara o Presidente Café Filho para conhecer o novo teatro. O país atravessava um momento delicado, a morte de Getúlio Vargas ainda ditava o tom. Tudo podia ser “atentado”. Foi quando governador e presidente ganhavam juntos a entrada do pequeno auditório. Lá dentro, os últimos detalhes eram acertados. O lustre, improvisado para a construção, ficara esquecido. Ainda estava pendurado no forro, balançando, aquela bacia recheada de lâmpadas. Embaixo o auditório vazio. As autoridades se aproximavam. Só deu tempo de gritar: “Coooorta”. Foi um estrondo, cacos pelo chão. Os repórteres (para variar) falavam em atentado. Bento Munhoz foi mais ligeiro. Lançou-se a uma poltrona e convidou o presidente para experimentar o lugar ao lado. “Veja, não são confortáveis?”, aliviou o governador. Habilidade de político para salvar o espetáculo. Pano rápido.
Por: Luiz Henrique Weber - jornalista

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