quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Norte de Minas: dos primórdios à Revolução de 1930

Norte de Minas: dos primórdios à Revolução de 1930
16/09/2004
Localização e toponímia

A Região Norte para efeito deste projeto tem limite a Oeste com a região Noroeste, tendo como divisa a margem direita do Rio São Francisco. A Leste limita-se com a região do Vale do Jequitinhonha, sendo a divisa traçada nas cabeceiras dos afluentes esquerdos do Rio Jequitinhonha. A Norte limita-se com o Estado da Bahia. A Sul limita-se com a região Central, sendo bastante sinuosa a linha divisora.

Montes Claros foi o primeiro núcleo urbano irradiador da região. Arraial de Nossa Senhora da Conceição de Formiga, elevado a vila e município por decreto imperial de 13 de outubro de 1831. Desmembrados os municípios de Grão Mogol, Bocaiúva, Brasília de Minas, Coração de Jesus, Francisco Sá, Juramento e Mirabela. Grão Mogol foi criado pela lei 171, de 23 de março de 1840 e se desmembra em Porteirinha, Botumirim, Cristália, Itacambira. O município de Bocaiúva foi criado pela lei 1996, de 14 de novembro de 1873 e se desmembra em Engenheiro Navarro e Francisco Dumont. O município de Brasília de Minas foi criado pela lei 290 de 26 de dezembro de 1890 e se desmembra em São João da Ponte e Ubai. O município de Coração de Jesus foi criado pela lei 556 de 30 de agosto de 1911 e se desmembra em Jequitai, Ibiai e Lagoa dos Patos. O município de Francisco Sá foi criado pela lei 843, de 17 de dezembro 1938 e se desmembra em Janaúba e Capitão Enéas. Juramento foi criado em 1953 e Mirabela em 1962.

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Fonte: Você S/A.

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Povoamento

Nas primeiras décadas do século XVI não havia homens brancos na região do São Francisco. As embarcações marítimas não eram apropriadas para a navegação fluvial, em águas correntes. Foi necessário um longo processo de adaptação, inclusive assimilação de técnicas indígenas na confecção das canoas de tronco de árvore. Com o aperfeiçoamento das embarcações, missionários e portugueses espalharam-se pelos afluentes do São Francisco. Os missionários chegaram antes que os portugueses como Padre Martinho de Nantes que documentou a ação portuguesa partindo da Bahia e de Pernambuco. No início do século XVII "já havia um número significativo de portugueses na região com seus escravos nativos preados em guerra e escravos negros; (...) e nesse contexto, a pecuária assume predominância: os currais ao longo das duas margens do rio" (NEVES, Z. 1998; 32) Ao contrário do século anterior, em que predominava o interesse pela produção do açúcar para exportação, no século XVII, os portugueses incentivavam a ocupação das duas margens do Rio São Francisco espalhando seus afluentes tanto da margem esquerda (Pernambuco), quanto direita (Bahia). Já no final do século Antonil registra as demarcações baianas partindo do Rio das Velhas até a barra do São Francisco. Registra um maior número de currais sob o domínio de Pernambuco ficando vago porém o ponto que atingiu rio acima. Antess da descoberta das minas de ouro o interesse da coroa era o abastecimento das povoações e engenhos da Bahia e Pernambuco, como observa Neves. "Aqui o que se deve reter de fundamental é a articulação entre o São Francisco e as cidades da Bahia e de Pernambuco, verdadeiras cabeças de ponte do processo colonizador". (NEVES, Z. 1998; 32)

A orientação da Coroa, com relação à colonização do Médio São Francisco é a mesma adotada a partir da capitania de São Vicente, isto é, nos primeiros momentos, século XVI, não havia interesse em ocupar o interior, senão a certificação da existência de riquezas minerais. No século XVII a penetração no interior é intensa: procura dos metais e pedras preciosas; escravização de índios e estabelecimento de currais. A inter-relação do São Francisco com os núcleos baianos e pernambucanos era coerente com o interesse da Coroa. Em diversos momentos do relato do Padre Martinho, constata-se a presença do Estado seja municiando os portugueses para a guerra contra os índios Carirís, seja nomeando capitães-mores na região ou arbitrando os conflitos entre a Igreja e os donos da terra e do gado". (NEVES, Z. 1998, 32) Na verdade a ocupação e povoamento do São Francisco, da foz para as nascentes foi lenta mas muito conflituosa como todas as outras regiões da colônia. A procura de novos espaços implica em escamotar, escravizar ou eliminar o indígena, com protesto do missionário. Uma das formas mais evidente que o processo de dominação concretamente assumiu, foi a escravização, conforme se pode inferir dos relatos do Padre Marinho. Mulheres cativas passavam à condição de concubinas dos colonizadores: é o que sugerem alguns comentários do missionário capuchinho como padre Martinho, numa localidade próxima a Juazeiro na Bahia. "Os índios estavam quase sem armas e mortos de fome. Renderam-se todos, sob condição de que lhes poupassem a vida. Mas os portugueses, obrigando-os a entregar as armas, os amarraram, a sangue frio, todos os homens de arma, em número de quase quinhentos; fizeram escravos seus filhos e mulheres". (NANTES, M. 1979; 53) Neves vai adiante registrando o fato de os missionários utilizarem os recursos náuticos dos indígenas. "Nesse particular, a apropriação cultural que então se processa, inclui a utilização das canoas indígenas pelos missionários, para a catequese de aldeias localizadas ao longo do rio. Os padres utilizavam-se dos serviços que os índios podiam prestar, ampliando o trabalho de catequese na região com o auxílio de grupos anteriormente contrastados" (NEVES, Z. 1998; 36). Os missionários associam-se aos índios; o branco traz o escravo africano e esses quatro elementos se interagem na formação da população nordestina ancoradas nos limites da região mineradora, que em breve surgirá.

Merecem estudos diferenciados as duas margens do Médio São Francisco no território mineiro. A direita por pertencer a Bahia e constituir-se em caminhos que antecedem à Mineração.(2) Antes dos bandeirantes paulistas os baianos percorriam a região, demarcavam terras e fixavam limites. A região constituía-se em grandes chapadões e baixadas próprias para pastagens, apropriadas para a criação de gado. A criação extensiva exigia grandes espaços. De forma intuitiva, desprovidos da racionalidade liberal, os fazendeiros comportavam-se de forma atualizada. Jogavam tudo para diminuir o custo de produção: terras gratuitas; mão-de-obra de custo mínimo; sal para o gado próximo às salinas, transportado pelo Rio São Francisco; proximidade dos centros aurífero e diamantífero. Mas quando surgiram núcleos de povoamento na região mineradora os currais começaram a margear o Rio das Velhas e se multiplicam. A população da Colônia, com a mineração, cresce em ordem geométrica, ampliando a área de ação do mercado até Piauí. (BARBOSA, W. A, 1979; 193) Antes da mineração a população da Colônia era de trezentos mil habitantes. No auge da exploração do ouro e do diamante foi multiplicada por onze, isto é, três milhões e trezentos mil habitantes, na maioria concentrada em Minas, fator primordial na formação do maior mercado consumidor da Colônia. Se por um lado havia o fator liberal do custo mínimo do produto, por outro lado a tributação exagerada chegava ao ponto de inibir o produtor de investir na pecuária.

Conforme longa pesquisa de Simão Pires a Capitania da Bahia ocupava todas as terras na margem direita do São Francisco e seus afluentes já na região mineradora de Pitangui; do atual Rio Pará, compreendendo as terras do morgado do mestre de campos Antonio Guedes de Brito (PIRES, S.R. 1979; 53) Trinta anos antes da oficialização da descoberta do ouro em Minas, Matias Cardoso de Almeida, seu filho Januário Cardoso, Antonio Gonçalves Figueira e Antonio Guedes de Brito, a serviço do governo da Bahia, desbravaram o território entre o morro do Chapéu e as vertentes do Rio Pardo, até a confluência do Rio das Velhas. (3) É verdade que Antonil, em 1701, cinco anos após a oficialização da mineração aurífera, acusa a existência de 500 currais de gado no lado direito do São Francisco, explorados pelos baianos na forma de arrendamento ou de aquisição de terras. A margem esquerda que pertencia ao Pernambuco, era menos explorada.

Em 1707 a Bahia reivindicava para si a região do Itacambira, com auxílio de seu Arcebispo. Mas como nos sertões os lugares não se definiam em face das modificações das denominações, as dioceses e capitanias não tinham como se orientar. Acontece que a partir do momento em que Minas se separa de São Paulo (1720); que se define como Capitania e que tem também a denominação de Gerais, ela se julga no direito de domínio onde quer que os metais e as gemas se aflorem. Então, a partir daí, é conveniente à Coroa portuguesa, apartar Minas tanto de São Paulo quanto da Bahia, focos de extravio do ouro, e logo depois, do diamante. Por isso, a fronteira de Minas, por ordem do Poderoso Conde de Assumar, de 23 de abril de 1721, manda estabelecer a divisa de Minas com a Bahia no que constitui a margem do Rio Verde Grande, desde sua nascente até a sua foz, isto é, o que eqüivale hoje ao trecho da divisa de Manga até Espinosa. Daí para Leste já corresponde às vertentes do Rio Jequitinhonha.

Além dos bandeirantes, baianos e pernambucanos uma grande onda de aventureiros de Portugal, Espanha e de outros países ocuparam o território de Minas. Diz Carvalho: "Não podiam os cavaleiros do oceano, os batalhadores e traficantes da Índia permanecer inertes na estreita planície costeira. Sonhavam com as fabulosas riquezas ocultas nas remotas paragens do Oeste. A Coroa fomentava o espírito de aventura, acenando aos pioneiros com altas honrarias e pingues mercês, além do ouro e das pedrarias no âmago da terra". (CARVALHO, D. 1957). Todos os acessos à região das minas eram difíceis. A eles interpunham-se enormes obstáculos naturais. A tentaiva de entrar no São Francisco pela foz, subindo-o contra a correnteza, esbarrou com o "Sumidouro", Cachoeira de Paulo Afonso. A procura de outros caminhos redundou em novas dificuldades: óbice igual, se não mais poderoso do que as florestas. Nestas o perigo era a solidão, sem veredas nem saídas. Nas caatingas era infalível o desnorteamento pela multiplicidade de trilhas. Para vir da Bahia à região das minas teriam os viajantes de atravessar a chapada seca, de 40 a 50 léguas despovoa, sem água; as escarpas abrutas da Serra do Espinhaço. (CARVALHO, D. 1957) Nas florestas encontravam insetos de picada venenosa, onças, serpentes venenosas; contaminação nas águas dos rios, além de jacarés e piranhas, raias de ferrão e sucuris. O maior empecilho à penetração estava na tenaz oposição dos índios. Selvagens tão primitivos que não conheciam a rede, nem os tecidos e vasilhas de barro e viviam exclusivamente da caça, da pesca e de coleta de frutos e raízes silvestres. Os índios usavam táticas desconhecidas dos europeus. Combatiam invisíveis nas tocaias e armavam fojos camuflados. (CARVALHO, D. 1957).

Vencidos os obstáculos a região das minas foi imediatamente ocupada por uma enorme quantidade de novos habitantes: índios, mestiços, negros, mulatos, portugueses, paulistas, baianos, pernambucanos e cristãos novos. Até o final do século XVIII a configuração territorial de Minas compreendia os núcleos de povoamento formados pela mineração de ouro e diamante. Na medida que iam descobrindo jazidas as fronteiras da Capitania iam se distanciando, como óleo no papel. O primeiro núcleo foi o compreendido pela atual região Metalúrgica: Barão de Cocais, Caeté, Congonhas do Campo, Catas Altas da Noruega, Itabirito, Nova Lima, Ouro Preto, Ouro Branco, Raposos e Sabará. Campo das Vertentes: Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Itapecerica, São João del Rei e Tiradentes. Sul: Aiuruoca, Campanha, Lavras, São Gonçalo do Sapucai, Natércia e Ouro Fino. Nordeste: Conceição do Mato Dentro, Diamantina, Minas Nova e Serro. Alto São Francisco: Pitangui, Pium-i, e Paracatu. Rio Doce: Peçanha e Cuieté. Zona da Mata: Piranga, Senador Firmino e Lima Duarte. Norte Oriental: Itacambira. Norte Ocidental. (1)

A tendência da historiografia é a de confirmar informações de que a mineração não permitiu a participação do indígena. Carvalho contrapõe-se a esse ponto de vista com algumas provas de que os indígenas prestaram serviços escravos aos mineradores. Além disso a miscigenação entre índios e paulistas era intensa. Com informação de Viana Moog, diz Carvalho que a legislação portuguesa recomendava o matrimônio legal do branco com as índias e era contrária ao casamento de branco com negra. "Vimos que os bandeirantes eram mestiços de indígenas e levavam nas bandeiras índios de ambos os sexos. Por outro lado, portugueses, baianos e pernambucanos, não traziam mulheres na comitiva, a não ser índias. As que encontravam nas minas e nos aldeamentos da vizinhança eram aborígenes". (CARVALHO, D.1957)


É certo que a preferência pela mão-de-obra africana vai deixando no esquecimento o indígena. A mineração, a indústria artesanal, as artes e os ofícios são movidos pelo trabalho do negro e do mulato. Na Segunda metade do século XVIII a presença do negro aculturado, praticando o cultor católico e intercruzando com o branco, era enorme. Eram muito comuns os casamentos e mancebias de brancos com pretos, a exemplo de João Fernandes e Chica da Silva. Atesta este fato a profusão de mulatos em toda a Capitania. Mas de um século de introdução de massas de escravos para o trabalho da mineração e das fazendas mudara o aspecto demográfico. A cultura africana em relação sincrética com a européia marca uma forte presença em Minas.

O bandeirante paulista deixou o exemplo de aventura empresarial, espírito de empresa. Capacidade de agregar-se e dispersar-se na busca de novas jazidas; iniciativa de implantação de novas fazendas de lavoura e criação de gado; resistência às intempéries e obstáculos naturais.

O português de alta linhagem, ligado à nobreza, quase sempre voltava para o Reino. Mas os lavradores do Minho e das Beiras, arraigaram e fortaleceram o apego à propriedade; o amor à família e à terra. Além disso contribuíram com as disposições para a parcimônia, a sobriedade e a frugalidade ainda presentes na cultura mineira.

O baiano e o pernambucano, segundo Carvalho, vieram trazer poesia, gosto pela dança e pela música. Kurt Lange confirma a musicalidade do pernambucano e sua capacidade para confeccionar instrumentos musicais refinados, constatada na música barroca mineira.

O cristão novo contribuiu com a capacidade da sutileza, da discrição, de exatidão, análise e decomposição das idéias. Transmitiu senso estético na arquitetura, artes plásticas e na música erudita; transmitiu o gosto pelo trato dos metais, das pedras preciosas e do dinheiro. Contribuiu para a quebra do preconceito contra o trabalho manual.

Depois da Inconfidência mineira acelera-se o esgotamento das minas e um movimento migratório inverso do ocorrido no auge da mineração aurífera. A punição aos inconfidentes com degredos, confinamentos e pena de morte foi aterrorizante, como revela o esquartejamento de Tiradentes. Igualmente rigorosas foram as perseguições sobre os habitantes das cidades auríferas, com prisões, confiscos de bens e humilhações públicas. A partir da Inconfidência Mineira as cidades do ciclo do ouro passaram por um melancólico esvaziamento. Os mineradores, os clérigos e escravos se distanciam das cidades buscando longínquas terras. Por onde chegam os ex-mineradores já transformados em agropecuaristas, vão empurrando as linhas divisórias da Província de Minas. No dizer de Carrato, uma verdadeira diáspora. Os migrantes partiram em massa na busca de novas aventuras, encontrando imensas florestas e terras desabitadas. Às vezes ainda tentavam a mineração de ouro ou de gemas, mas acabavam abrindo currais, fazendas e pequenos negócios; começa a ereção de capelas, criação de freguesias ou vilas. (CARRATO, 1968) No momento da Inconfidência e logo depois do dia 21 de abril de 1792, os espaços inexplorados nas imediações dos centros auríferos começaram a ser ocupados, atestando isso a criação de novos municípios, como em 1789, Itapecerica; em 1790 Conselheiro Lafaiete; 1791, Barbacena; 1798, Campanha e Paracatu; em 1831, Formiga e Itabirito, 1831; Bonfim e Santa Bárbara, 1839; Conceição do Mato Dentro, 1840; Piranga, e Pium-i, 1841 e Pará de Minas, 1848.

Já no século XIX a expansão é mais para os limites extremos da província e para além de suas fronteiras, como o Jequitinhonha que pertencia à Bahia até o final do século XVIII. Dois fatores motivaram as migrações do Losango Aurífero para aquela região: a criação extensiva e exploração das pedras preciosas. Em 1831 foram criados os municípios de Diamantina e de Rio Pardo; em 1840, Grão Mogol; em 1857, Araçuai.

A margem esquerda do Rio São Francisco que pertencia a Pernambuco, por bando de Assumar, de 26 de abril de 1721, com autorização régia, passa para Minas Gerais, com suas povoações e currais de gado, desde as nascentes até o Rio Carinhanha. Um século depois Minas foi contemplada pelo governo imperial, Dom Pedro I, com a Comarca do São Francisco A partir do Rio Carinhanha pela margem esquerda do Rio São Francisco até Barra, que pertencia ao Pernambuco foi transferida para Minas em 1824, Três anos depois transferiu à Bahia o território da chamada Comarca do São Francisco. Do ponto de vista eclesiástico continua em poder de Pernambuco toda a margem esquerda do São Francisco até Paracatu., no final do século XIX; Desde o final do século XVIII vinha recebendo migrantes mineiros dedicados à criação de gado bovino, contribuindo para a ocupação também da margem direita. Em 1831 são criados os municípios de Montes Claros, Curvelo e São Romão e em 1833, Januária.(PIRES, 1979; 183)

Para o Leste os mineiros empurram a divisa com o Espírito Santo para a Serra dos Aimorés, em 1800, em permanentes confrontos com os índios da Zona da Mata. Em 1831 é criado o município de Rio Pomba, em 1839, Rio Branco; 1841, Piranga; em 1850, Juiz de fora; em 185l, Mar de Espanha; em 1853, Ubá; 1854, Leopoldina; 1855, Muriaé; 1857, Ponte Nova; 1875, Peçanha, Cataguazes; 1877, Manhuaçu; 1878, Carangola; 1879 Caratinga; 1889, Santos Dumont.

Para o Sul, em direção a São Paulo, as migrações foram mais aceleradas com a criação intensiva e fazendas de policultura. Surgem os municípios de Baependi e Jacui, em 1814; Lavras e Pouso Alegre, em 1831; Aiuruoca em 1834; Oliveira em 1839; Três Pontas, em 1841; São João Nepomuceno, em 1841; Campo Belo em 1848; São Sebastião do Paraíso, em 1870; São Gonçalo do Sapucai e Poços de Caldas, em 1888.

O Triângulo Mineiro que pertencia a Goiás, em face do grande número de migrantes da região aurífera, forçou sua passagem para Minas Gerais em 18l6. Em 1831 cria o município de Araxá; em 1836, Uberaba; em 1840 Patrocínio; em 1856, Estrela do Sul e em 1866, Patos de Minas.

As três primeiras décadas do século XIX foram de transformações radicais para Minas. Passou da condição de centros urbanos para pequenas vilas, isto é, a ruralização da sociedade com reflexos imediatos na cultura e na política. Basta dizer que de 1801 a 1830 foram criados apenas dois municípios em Minas (Baependi e Jacui). Nesse período os viajantes estrangeiros observam o melancólico esvaziamento das cidades do ouro. Por muito tempo Minas continua sendo a província mais populosa do País, mas o eixo histórico se desloca para o Rio de Janeiro. A Inconfidência que havia virado Minas de ponta-cabeça permaneceu oculta para os políticos e historiadores até a deflagração do Movimento Republicano, no final do século XIX.

As fazendas de criação de gado, lavoura de milho, feijão e mandioca e extração de sal exigiam transporte de baixo custo para vencer as distâncias e chegar ao grande mercado consumidor. Não havia opção melhor que a navegação fluvial, responsável pela formação de núcleos urbanos. A tropa de burro e o carro de bois faziam a conexão entre as fazendas e as vilas ao longo do rio e de seus grandes afluentes, como esclarece Neves. Acredita que a Barra do Rio das Velhas seja um dos povoados mais antigos do Médio São Francisco. Situado na confluência do rio das Velhas com o São Francisco, sua posição geográfica é, sem dúvida, estratégica: ali se iniciava o trecho navegável do Médio São Francisco, em face da proximidade do arraial em relação a Sabará e o Distrito Diamantino. (NEVES, Z. 1998; 48) Pirapora - O limite da cachoeira faz surgir o povoado a poucos quilômetros acimada Barra do Rio das Velhas. Paracatu - O povoado de Paracatu começa a surgir em 1744, com a mineração de ouro e segundo Neves, mantinha contato comercial com São Romão e Januária, via São Francisco, adquirindo ali ferramentas, confecções e alimentos, embora fosse proibido por carta régia de 1701. (NEVES, Z. 1998; 52. São Romão - Na mesma época de Paracatu, 1736, São Romão é palco da chamada "Revolta do Sertão", contra a extensão dos tributos da mineração cobrados nas atividades agrícolas. Os revoltosos planejavam o lado oposto do São Francisco e a partir de Guaicui chegar aos domínios de Sabará. Neves, baseando-se nesse fato, conclui sublinhando o valor social dos trabalhadores da navegação, na interação das duas regiões. Já no século XIX o aglomerado humano e as atividades portuárias de São Romão são expressivas, principalmente na distribuição de sal para as províncias de Minas e de Goiás. Januária - Ex Salgado, fundada no começo do século XVIII. Viajantes como Saint-Hilaire e Von Marcius, quando o povoado ainda pertencia a Pernambuco, nas primeiras décadas do séc. XIX, fazem referência ao volume de carga de sal, produtos industrializados, produtos agrícolas, passageiros e outros tantos, com destino a Minas Gerais. No retorno as embarcações levavam para a Bahia os produtos da agroindústria local, especialmente da velha tradição pernambucana, como cachaça e açúcar. Para outros mercados levavam feijão, milho, farinha, couro e peles. (NEVES, Z. 1998; 61) Matias Cardoso - Mais abaixo surge o povoado de Matias Cardoso, fundado no final do século XVIII. Travessia de Pernambuco para a Bahia. Parece ter sido um ponto de embarque para a região das Minas. Mais tarde, já no século XIX, Matias Cardoso cede lugar a Manga. Montes Claros - Diz Vasconcelos que quando se avolumou a população das gerais e o comércio cresceu de valor em gêneros alimentícios, em gado principalmente, o capitão Antonio Gonçalves Figueira que tinha aberto um caminho ligando Montes Claros à Bahia, prolongou essa linha até o Rio das Velhas, em 1707. O capitão Figueiredo fundou também a fazenda do Jamba. Com a descoberta da jazida de Itacambira, a região foi imediatamente ocupada Logo depois da descoberta dos diamantes (1730), novos caminhos foram abertos de Montes Claros com direção ao Distrito Diamantino. (VASCONCELOS, D. 1974; 50).

Na Segunda metade do século XIX, o engenheiro alemão Henrique Halfeld, de 1852 a 1854, realizou minucioso estudo das margens do São Francisco desde as cabeceiras do Rio das Velhas até sua foz no Oceano Atlântico. Registrou com minúcia de detalhe, a vertente da Serra da Canastra até a barra do Guaicui. Como o objetivo do trabalho é o de registrar a situação da navegação, Halfeld parte da Cachoeira de Pirapora, mostrando que as embarcações eram, então, canoas de cem palmos de comprimento e cinco de largura, para um ou dois remadores; ajoujos de duas ou três canoas unidas por paus roliços e amarrados a estes com alças ou tiras estreitas de couro cru e barcas de todos os tamanhos, chegando até 105 palmos de comprimento. O relatório é rico não somente nos detalhes dos registros gráficos, mas também na recomendação de procedimentos técnicos a serem adotados: matas e casebres às margens dos barrancos, gólfões sobre a superfície da água, alagadiços; recomenda construção de alguns portos; nomeações de pilotos por concurso público; regulamento para a navegação das "carrancas", procurando evitar acidentes. (HALFELD, 1860)

Economia

O Norte e o Nordeste de Minas que até as duas primeiras décadas do século XVIII pertenciam à Bahia e receberam fortes influências daquela capitania, com reflexos até o presente momento. O episódio da Guerra dos Emboabas representou a luta dos baianos para obtenção do monopólio da produção e comercialização da carne de gado na região das minas. O Morgado dos "Guedes de Brito", de Isabel Guedes de Brito era administrado por Manoel Nunes Viana, a principal figura do conflito. As fazendas do dito morgado estendiam-se desde a Bahia até as cabeceiras dos rios Pitangui, Paraopeba e Rio das Velhas. O testamento do morgado condicionava a sua manutenção ao envio de riquezas a Portugal. (PEIRES, 1979; 57) Após a Independência do Brasil as enormes propriedades do "Morgado Guedes de Brito" começaram a ser ocupadas por poderosos coronéis para continuidade da criação extensiva de gado bovino. Não foram poucos os processos e as demandas reclamando na justiça os direitos dos herdeiros baianos.

Esse problema herdado da época colonial afeta consideravelmente a questão agrária nas épocas monárquica e republicana. O excesso de terras em mãos de poucos. As melhores terras nas proximidades dos rios navegáveis eram cultivadas com regularidade. Afastando-se para o sertão vinham as pastagens de criação extensiva.

Se a lavoura não contribuiu de modo tão significativo no devassamento de áreas, a pecuária disputa com a mineração a prioridade na faina desbravadora de terras sertanejas. Vegetação e salinas permitiram a atividade pastoril na região Norte. Nas estatísticas de exportação das primeiras décadas do século XIX é a pecuária que sobressai. (IGLÉSIAS, 1958; 84)

Diversos autores fazem referência ao sal transportado do Nordeste para a região Central de Minas através do Rio das Velhas, ficando evidenciada a posição estratégica de Guaicui como centro distribuidor. Os remeiros levavam, além do sal, rapadura, açúcar, milho, para Diamantina, Ouro Preto e Sabará. (NEVES, 1998; 135) O abastecimento da região Central com produtos do Norte não sofreu interrupção com a decadência da mineração. O Rio das Velhas reverteu-se em importante canal de comunicação, de vez que era navegável desde sua foz no Guaicui até Santa Luzia, hoje região metropolitana de Belo Horizonte. A história da Baronesa de Santa Luzia, herdeira do monopólio do comércio de Sal em Minas, ilustra a importância do Rio das Velhas no transporte e distribuição de diversos produtos vindos da região Norte. (4)

A região é conhecida como a mais refratária a mudanças. Sua economia é típica da análise feita por Mendras como do tipo tradicional. A autoridade tradicional só age de acordo com suas convicções e não aceita a opinião de técnicos estranhos à parentela. Assim, o tipo tradicional cria obstáculo bastante sério do funcionamento de uma economia moderna que se baseia nas criações contínuas. Na empresa regida pelo tipo tradicional a primeira virtude do subordinado não é a competência, mas a lealdade. O tipo de gerência tradicional é incompatível com o desenvolvimento. (MENDRAS, A975; 158) Este é um dos atores pelos quais a região tem apresentado um acentuado índice de subdesenvolvimento. As atividades agrícola, pastoril e pequena indústria não têm sido suficientes para segurar o homem na terra.

Em 1925 a lavoura, a criação de gado e a agroindústria estavam em poder de coronéis, equivalendo dizer: o tipo tradicional de gestão econômica. O maior produtor de algodão era o coronel Francisco Ribeiro, que possuía também instalações para beneficiamento do produto. A indústria de laticínios, especialmente o requeijão moreno, era propriedade do coronel João Maia. Curtumes e fabricas de arreios em mãos do coronel Antonio dos Anjos.

Política

O Rio Verde, que faz a divisa de Minas com a Bahia era constantemente fiscalizado na época colonial, para impedir o contrabando de ouro. Gomes Freire de Andrade, governador da Capitania de Minas, ao viajar para o Rio de Janeiro, em 1735, deixou a seu irmão Martinho de Mendonça a incumbência de fiscalizar a região Norte e cobrar os impostos devidos. A resistência ao fisco reverteu-se em grave revolta no sertão. Começou na Barra do Rio das Velhas quando o juiz de Curvelo, Alexandre de Souza Flores ao fazer uma devassa, foi expulso a bala pelo coronel Antonio Tinoco Barcelos e seus jagunços. Em seguida, na Barra do Rio Verde ocorreu o mesmo com o potentado André Moreira. Em Montes Claros e Urucuia, sob a chefia de Matias Cardoso de Oliveira e André Conçalves Figueira descendentes dos fundadores da região resistiram a bala às devassas. André Gonçalves foi deportado para Angola, mas a família Cardoso organizou um movimento armado para depor o governador Martinho de Mendonça. Chegou a formar-se um numeroso grupo armado, mas o combate dos Dragões, força oficial, provocou divisões entre os amotinados. Os poucos se que sobreviveram dedicaram à pilhagem, desonras e assassinatos. (PAULA, 1979; 11) Foi, possivelmente, o primeiro movimento de cangaço do Brasil.

Correndo a notícia do movimento rebelde de 1842, o governo começou a espionar a região Norte. Começa com um ofício do Juiz de Paz de Barra do Guaicui, dirigido à Câmara de Montes Claros denunciando o povo daquela vila de idéias republicanas. O documento caiu nas mãos dos conservadores, Coronel Pedro José Versiani, chefe da Guarda Nacional; Dr. Jerônimo Máximo de Oliveira e Castro, juiz de direito e do padre Felipe Pereira de Carvalho, juiz municipal. O presidente da Câmara, o padre Chaves que vinha sendo espionado, fez veemente protesto aos termos do documento. As mensagens dos revoltosos eram obstaculadas pela espionagem. Por isso a mensagem de D. Pedro II foi a primeira a chegar na região e falava da perturbação da ordem em São Paulo e Minas. A partir daí Montes Claros e Bocaiúva constituíram-se na maior força governista e de combate aos revoltosos. Mandaram forças para Mendanha no Pé do Morro e Diamantina e combateram as forças rebeldes concentradas em Curvelo. (PAULA, 1979; 26)

A campanha republicana no Norte de Minas foi liderada por Diamantina. Em Montes Claros o maior líder foi o capitão Alberto Cassimiro de Azevedo Pereira, que era o presidente do Clube republicano. Logo após a proclamação da República determinou a retirada da fachada do edifício da Câmara municipal o emblema e a coroa imperial. As comemorações da proclamação da República em Montes Claros renderam alguns protestos: a banda de música local que era monarquista não quis participar da solenidade. Foi preciso buscar em Bocaiúva uma banda republicana. A primeira Intendência municipal de Montes Claros escolheu não republicanos para os principais cargos. Os republicanos autênticos negaram apoio ao presidente da Câmara recomendado pelo governo estadual. Em 1892 o Partido Republicano Mineiro acabou apoiando um conservador que foi eleito o primeiro presidente da Câmara, Dr. Carlos José Versiani. (PAULA; 1979; 21)

A proclamação da República era desejada para que tivesse fim o centralismo que beneficiava apenas a Metrópole do Rio de Janeiro. O governo imperial e seus subalternos presidentes de províncias impediam execuções de projetos os que beneficiassem os interesses regionais. A primeira coisa que fez o Estado de Minas foi organização a instituição municipal que ganha força e mobilidade. Em torno dos municípios organizam-se as forças políticas regionais. O presidente do Estado começou a trabalhar com metas. João Pinheiro realizou em 1903 um congresso agrícola em que foram estudadas as peculiaridades de cada região. Incentivou a seleção de raças de gado de corte para a região Nortes de Minas.

Após a Proclamação da República, a Guarda Nacional foi extinta mas continuava a distribuição de títulos honoríficos de forma consuetudinária. O povo outorgava aos que exerciam o poder econômico e político o título de coronel. Conforme Blondel, o coronel é caracterizado pelo poder político que ostenta, com a capacidade de manter sob seu controle, os redutos eleitorais, sendo a quantidade de votos a medida de seu poderio. Papel importante é o do cabo eleitoral a quem é atribuído o dever de controlar a massa eleitoral de modo a não permitir a evasão de votos. O cabo eleitoral é uma espécie de "vassalo" intransigente, disposto a lançar mão de qualquer meio para coibir a infidelidade a seu coronel. O coronel impunha à parentela uma disciplina férrea e confissões de absoluta fidelidade. (MOURA, 1983; 60) O poderio econômico do coronel caracterizava-se pela capacidade de explorar as imensas terras disponíveis, para manter o latifúndio de grandes lavouras ou pecuária extensiva. O agregado, substituto do escravo, não tendo outra opção, entregava o seu trabalho em troca da necessária proteção e do indispensável favoritismo oferecido pelo coronel paternalista. Essa ordem era mantida com a força do crime.

A Monarquia era centralizadora enquanto a República Velha (1889/1930) era regionalista. Começa por valorizar o distrito e seus lideres, depois o município e o Estado. Nesse período o Município e o Estado tiveram mais autonomia que em outros momentos. A verdadeira federação só quebrada com a Revolução de 30. É claro que a situação territorial dos municípios era diferente da de hoje. Eram freqüentes municípios com 12 distritos de enormes extensões territoriais, distando da sede do município até 200 quilômetros. Os bens e serviços públicos ficavam complicados. Complicava-se mais ainda a falta de transporte. Daí a luta entre o distrito e o município desde que a República contemplou o distrito com parte da renda do município, a formação do Conselho Distrital e com o poder dos coronéis com seu eleitorado fiel e submisso. A emancipação do Distrito de Brasília de Minas, desmembrando-se de Montes Claros foi por efeito dessa nova política de descentralização e ao mesmo tempo fortalecimento das microrregiões. Ainda no governo provisório do Estado, sem definição legislativa, Brasília de Minas fora emancipada pelo Decreto Estadual Nº 290, de 26 de dezembro de 1890. Ao desmembrar-se de Montes Claros Brasília de Minas passou a contar com 7 distritos: Brasília, Santo Antonio da Boa Vista, São João da Ponte, Campo Redondo, Ibiracatu, Ubai e São Lourenço, conforme a nova política de divisão territorial. (SILVEIRA, 1926; 804) Na década seguinte emancipa-se o distrito de Coração de Jesus, elevando-se à categoria de município pela Lei estadual 556, de 30 de agosto d 1911, com o nome de Inconfidência. Esse nome contemplava a campanha republicana cuja bandeira principal era a Conjuração Mineira, em repúdio ao colonialismo.

O Liberalismo era o fundamento ideológico do Capitalismo em formação na região, para o qual a mão-de-obra remunerada era o fator que mais onerava o produto. O poder do produtor através do Estado era necessário para impedir a rebeldia ou resistência o trabalhador explorado pelos produtores, quase numa extensão da escravidão. João Pinheiro, presidente do Estado de Minas Gerais no inicio da vida republicana discordava dessa mentalidade que na verdade era tão inconveniente quanto o regime de escravidão. Sua luta era pela democratização da justiça. Discordava dos fazendeiros adeptos da ideologia da "vocação agrícola do Brasil" que privilegiava os fazendeiros. Era a favor da policultura e contra a monocultura do café ou do algodão. Sua idéia de progresso conferia com a política de desenvolvimento, isto é, o benefício do progresso deveria abranger toda a sociedade e não somente à minoria privilegiada. Ao realizar os congressos das municipalidades por região, visava conhecer a realidade econômica e social. Em setembro de 1907 realizou-se em Diamantina o congresso da região Norte. O discurso de João Pinheiro andou na contra-mão dos empresários da região, na maioria produtores rurais. Para João Pinheiro a pequena agricultura deveria ter condição de fixar o trabalhador no solo, levando ao homem do campo educação profissional. O escritor Aristides Rabelo observou a falta de interesse dos participantes do congresso para os assuntos expostos e discutidos. (5)

Assim viveu a região Norte, dominada pelas oligarquias, sob o comando dos coronéis. A revolução de 30 foi um movimento político que interessou às regiões da Mata, Sul e Centro de Minas. Visava a modernização, renovação dos quadros políticos, contra o poder do fazendeiro, do coronel; contra o mandonismo regional. À região Norte coube a maior resistência aos planos da Aliança Liberal. Montes Claros tornou-se o centro da luta política contra Getúlio Vargas. O partido honorista chefiado pelo Dr. João Alves, marido da famosa Tiburtina, contava com o presidente da Câmara, Alfredo Coutinho, pessoa de confiança do presidente do Estado, Antonio Carlos Ribeiro de Andrade. (PAULA, 1979; 32) O episódio no qual o vice-presidente da República, Fernando Mello Viana fora baleado, provocou a intervenção federal na cidade, merece ser contado em maiores detalhes. (6)

Tiburtina Andrade Alves - Nascida em Itamarandiba, aos 30 de agosto de 1873, filha do capitão Manoel Florentino de Andrade Câmara e Dona Henriqueta Leocádia de Mello. Querendo livrar-se da opressão paterna, furtava-lhe dinheiro para oferecer aos pobres.. Estudou em Diamantina, curso normal, em regime de externato. Casou-se com Antônio Augusto Câmara Alkmim, contra a vontade do pai. Como o marido era boêmio e alcoólatra ela teve que assumir a lida da fazenda deixando viver a sua inutilidade. Nessa situação resolveu mudar-se para Montes Claros em 1902. Sozinha, passou a administrar a fazenda. Além da beleza natural, procurava esmerar-se com boas vestimentas e penteados. Muito cedo Alkimim faleceu e Tiburtina ficou viuva. Nova, bela e rica, aos trinta e quatro anos de idade, o que mais lhe interessava? Nada mais que um figurão, filho de um potentado regional. O candidato era o novo médico, João José Alves, nascido em Diamantina, filho do coronel Marciano Alves. Com esse pretendente casou-se em 1907. Logo depois do nascimento do primeiro filho do casal, o sogro foi assassinado. Tiburtina tudo fez para descobrir e punir o grupo responsável. A partir daí, ela e o marido tomaram a frente da política de Montes Claros. Filiou-se na Aliança Liberal e fez oposição aos coronéis conservadores da região. A cidade toma impulso de progresso. Participa da Revolução de 30, em luta contra as oligarquias locais. O Vice-presidente da República Fernando Melo Viana, participando de movimento político contrário à Aliança Liberal provocou a resistência da família Alves. Tiburtina convocou seus pares e colocou-se de prontidão em frente à sua casa. Uma bomba atirada pelos manifestantes atingiu o filho de criação do casal, (Fifi) que caiu morto. Começou o tiroteio deixando 6 mortos e muitos feridos, entre os quais o vice-presidente. O governo federal decretou intervenção na cidade por três dias, contra a vontade do Governo de Minas.

Referências bibliográficas

BARBOSA, Waldemar de Almeida. História de Minas. Belo Horizonte: Comunicação, 1979.

CARRATO, José Ferreira. Igreja, Iluminismo e escolas mineiras coloniais. São Paulo: Nacional, 1968.

CARVALHO, Daniel de. Formação histórica das Minas Gerais. Primeiro Seminário de Estudos Mineiros. Belo Horizonte: UMG, 1957.

HALFELD, Henrique Guilherme Fernando. Atlas e relatório concernentes a exploração do Rio São Francisco, desde a cachoeira de Pirapora até o Oceano Atlântico. Rio de Janeiro: Lithographia Imperial, 1860.

IGLÉSIAS, Francisco. Política econômica do governo provincial de Minas Gerais. (1835-1889). Rio de Janeiro: MEC, 1958.

MARINA, Anna. Um dia feliz para Santa Luzia. Estado de Minas. Belo Horizonte, 19 out. 2001.

MENDRAS, Henri. Princípios de sociologia. Rio de Janeiro: Zahar. 1975.

NANTES, Pe. Marinho de. Relação de uma missão no São Francisco. Tradução e comentário de Barbosa Lima Sobrinho. São Paulo: Nacional, 1979.

NEVES, Zanoni. Navegantes da integração: os remeiros do São Francisco. Belo Horizonte: UFMG, 1998.

PAULA, Hermes Augusto de. Montes Claros, sua história, sua gente e seus costumes. Montes Claros: Autor, 1979.

RABELLO, Aristides. Diamantina: Congresso do Norte de Minas. Kosmos. Rio de Janeiro, set. 1907.

PIRES. Simão Ribeiro . Raízes de Minas. Montes Claros: Autor, 1979.

SILVEIRA, Victor. Minas Gerais em 1925. Belo Horizonte: Imprensa Oficial, 1926.

VASCONCELOS, Diogo de. História Média de Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 1974.

Notas


(1) Há informação de que margem esquerda do Rio São Francisco até 1824 pertencia a Pernambuco, quando foi incorporado a Minas Gerais. Compreende os municípios de Montalvânia, Manga, Itacarambi, Januária e Buritizeiro. Na verdade o que foi incorporado a Minas e logo depois cedido à Bahia foi a Comarca do São Francisco do Rio Carinhanha até Barra.


(2) A margem direita compreende os municípios de Espinosa, Monte Azul, Itacambira, Janaúba, Capitão Eneas, coração de Jesus, Brasília de Minas, São Francisco, Bocaiúva, Várzea da Palma e Pirapora.


(3) Januário Cardoso é o construtor da igreja de Nossa Senhora da Conceição de Morrinhos, hoje Matias Cardoso, de 1670 a 1673, sendo o templo mais antigo de Minas.


(4) - Maria Alexandrina, nascida em Lençóis na Bahia, era afilhada de Dom Pedro II. Ao casar-se com o barão Manoel Quintino, recebeu do imperador como presente de núpcias o monopólio do sal em Minas Gerais. O casal chegou a Santa Luzia navegando em um luxuoso vapor. Construiu um belo solar nas proximidades do porto. A baronesa de Santa Luzia tomou a frente dos negócios de fazenda; comercio e benfeitorias da cidade. Participava ativamente da política investindo dinheiro e apoiando candidatos a deputado e a presidente da Câmara Municipal. (MARINA, 2001)


(5) - "Agora em setembro veio a baila no Estado de Minas, o nome da cidade de Diamantina; lá se reuniu no dia vinte, entre festas oficiais e pagodeiras do povo um congresso das municipalidades do Norte do Estado. Foi um congresso como são todos os congressos: fez-se uma chamada, o presidente abriu a sessão, uns dormiram e outros lançaram idéias, discutiu-se, as horas passaram, o presidente encerrou a sessão. No fim nada de prático terá saído, ficando apenas a recordação das festas; dos banquetes para os que não são da terra e as dívidas para a administração. Conquanto isto seja verdade, o congresso de Diamantina é um acontecimento curioso: lá foi o presidente do Estado, lá estava a imprensa, lá foram pessoas de diversas partes, Diamantina foi muito vista e muito falada. Todos se convenceram de que é uma terra curiosa e rica de diamantes; todos se convenceram de que ali só falta o trabalho e o dinheiro; de que ali é uma fonte de riquezas ocultas; de que ali é um céu abandonado; de que aquilo deve continuar a ser um torrão ambicionado por seus tesouros; que o Norte de Minas é uma ignorada maravilha. Terão boas intenções, acharão que em parte alguma do universo se assa tão bem um lombo de porco e que aquele vinho lá fabricado é um assombro... mas apenas reentrados em seus eixos, farão política esquecendo a pátria. Assim, passados os três dias de festanças e mal desapareça o último hóspede farto, a curiosa cidade voltará à sua vida pacata. Vai um dia e volta outro, um garimpeiro preto cata aqui um diamante no seu carumbé; acolá uma companhia inglesa colhe uma fortuna na sua draga, um outro mineiro pobre perde o seu dinheiro a escavar uns buracos aqui; acolá, uma companhia francesa absorve milhares de francos; a pasmaceira industria reina; a pobreza entra para a terra e a riqueza saí com os estrangeiros; a estrada de ferro continuará a distar 20 léguas; não existirão estradas; o governo lhe presenteará com uns quilos do jornal "Minas Gerais" e a Diamantina grata dará ao governo, de quatro em quatro anos, um deputado. É assim, sob este aspecto, que a princesa do Norte de Minas é uma interessante cidade". (RABELLO, 1097)

Indicamos: Almir Wildhagen As Minas Gerais - Antonio de Paiva MOURA

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