quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Memória da Curitiba Urbana

Memória da Curitiba Urbana
13/07/2002
Depoimentos:

Dúlcia Auríquio e Cassio Taniguchi.

- Isto está tudo aqui narrado, sejam nos depoimentos daqueles que estiveram diretamente envolvido no processo da construção de uma cidade mais acessível a todos, seja nas interpretações que este processo tem possibilitado.

Os relatos e as análises de profissionais de diferentes áreas mostram também que em conseqüência, a mais profunda transformação, vivida por Curitiba foi, inegavelmente a cultural.

A população viu surgir diversificados espaços de recreação, ou melhorados por aqueles já consagrados. Viu prerservadas ou recicladas suas referências tradicionais. Pôde voltar a caminhar pelo centro da cidade, agora uma ampla sala de visita. Passou a ter a cidade à sua disposição, em todos os quadrantes.

Marcante transformação a de ontem, porque exige do IPPUC mais e mais sensibilidade no acompanhamento do desenho presente e futuro da cidade. Marcante transformação, porque permanece tecendo os destinos desta Curitiba que se quer cada vez mais humana.
Cassio Taniguchi
Atual Prefeito de Curitiba


Depoimento de Dúlcia Auríquio

A história é um pouco longa. Nós realmnte tinhamos uma equipe de planejamento, dentro de Departamento de Urbanismo da Prefeitura de Curitiba. Essa equipe estava sempre ligada a coisas de uso do solo, ocupação territorial com ou sem autorização. A gente sentiu que a cidade estava correndo meio depressa. Essa equipe de planejamento fez um trabalho de campo, percorrendo a cidade inteirinhapara ter conhecimento do uso do solo que estava acontecendo espontaneamente e para sentir se havia necessidade de modificação ou se mantinha como estava. A idéia era de se fazer uma interferência com a base mais séria.

Percorremos a cidade durante seis meses e depois mais outro tanto, em trabalho intensivo, e o levantamento foi mapeado, estudado, trabalhado por essa equipe de planejamento - não exatamente planejamento, mas um plano de acompanhamento. Protegemos aquelas áreas que tinham que ser desenvolvidas para coisas melhores; as que já estavam sendo deterioradas, delimitamos, para não se estender esta deterioração - serviços pesados, oficinas, estes tipos de atividades - em zonas residenciais boas.

Existia a Lei de Uso do Solo, montada pelo Luiz Armando Garcez, sobre levantamento precário. Contávamos então com a Lei de Uso do Solo, com um levantamento precário, indicando o que tinha alinhamento, o que era recuado. Era algo muito genérico, mas havia, montada por Luiz Armando Garcez, do Departamento de Urbanismo, que havia feito curso na Inglaterra. Ele e Saul Raiz tinham essa visão e montaram a primeira fase. Na realidade, o que havia de plano diretor era o Plano Agache. Dentro dele havia este trabalho de zoneamento, uso do solo, arruamento.

Karlos Rischbieter, então presidente da CODEPAR e depois do BADEP, que tinha uma mentalidade voltada para o urbanismo - entrou na história perguntando: "Por que a gente não fazia um plano diretor novo, ao invés de ficármos com o Plano Agache?". O prefeito, Ivo arzua Pereira, disse: "Há um plano, vamos segui-lo". Começamos a alargar as ruas XV de Novembro e Marechal Deodoro, que eram estreitinhas, no centro da cidade. Isto nos abriu os olhos, no sentido de que seguir o Plano Agache muitos anos depois, sem uma adaptação, não tinha porquê. Precisaríamos de uma coisa mais atualizada e dentro da realidade. Rischbieter se propôs, através do CODEPAR, a financiar um plano. Houve uma concorrência, vencida pela Serete. O novo já era outro sistema, outro enfoque.

Essa equipe de planejamento - que era uma Divisão de Planejamento do Departamento de Urbanismo - formou a equipe de acompanhamento da vencedora da concorrência (a equipe paulista que veio trabalhar aqui). Isto foi uma exigência do CODEPAR e de Urbanismo também. Porque, se os paulistas fizessem o plano e saíssem, como ficaria? Então a gente precisava trabalhar junto, desde as pesquisas básicas até a definição final de planejamento, para que depois o pessoal daqui deslanchasse tudo, sossegado.

Para o desenvolvimento do Plano Diretor, havia sempre reuniões entre a equipe paulista e a nossa, para troca de informações e procura de caminhos. Depois eles montaram o Plano Diretor de Curitiba, em cuja implantação começamos a trabalhar. O prefeito sentiu a necessidade de ter um instituto para isso, um órgão próprio que não fosse a Divisão do Departamento de Urbanismo - sem força para a implantação do Plano Diretor. Este órgão começou sendo APPUC (assessoria de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba).

O mapa da Vasp e uma encomenda da Força e Luz foram nossas bases para o mapeamento inicial.

Para o mapeamento inicial, partimos de um levantamento aerofotogramétrico que havia da Vasp, e começamos a trabalhar sobre ele. Mas o mapa, precisava de algumas correções e não estava atualizado. Nós aproveitamos uma encomenda da então Companhia Força e Luz, que queria uma diretriz de arruamento - o da cidade toda em pranchas de 60x60 - para poder localizar os estabelecimentos que tivessem ligações elétricas. Esse mapeamento foi feito - foi o primeiro mapa que saiu do IPPUC - e aproveitamos esta base. O mapa foi chamado de "Diretriz de Arruamento", porque não era estritamente técnico, mas para atender ao pedido da Cia. Força e Luz. A partir daí, com o mapa da Vasp e o anterior - um exelente, do exército, de 1953 - e a "Diretriz de Arruamento", fomos compondo um mapa totalmente confiável. Obtivemos dados em cartórios, em estabelecimentos particulares, na Região Metropolitana. Todo o pessoal que tinha loteamento aprovado nos forneceu elementos, que reduziamos em escala para montar o mapa. Ele ficou tecnicamente certo, porque as medidas todas foram conferidas nos locais. Houve um trabalho muito sério da equipe de campo de topografia e novas aerofotos. Aos poucos fomos indo, para ter um mapa tecnicamente correto dentro das normas.

Desde esse mapa, todos os loteamentos aprovados eram encaminhados ao IPPUC, que reduzia a escala e mapeava. Assim fomos sempre tendo acompanhamento. Todos os mapas posteriores foram feitos na escala desse primeiro mapa-base, pela outra equipe extremamente competente do IPPUC, reconhecida nacionalmente.

Caminharam praticamente juntos o mapeamento e o desenvolvimento do Plano Serete. Pelo plano, a gente sentiu a necessidade de um mapa e começou a trabalhar nisto. Ambas as coisas iam acontecendo paralelamente. Além disto, tínhamos o levantamento de uso do solo da cidade inteira e o acompanhávamos sempre. Havia uma equipe que se encarregava do zoneamento. Por exemplo, vinha um pedido para uma instalação de um uso qualquer, não residencial (porque este era tranqüilo e pacífico) era verificado no mapa o levantamento e se podia ou não. Na maioria das vezes, a cidade era toda percorrida novamente, para se ver essas coisas em cogitação. Começou a haver uma informação campo-escritório muito intensa. Fomos conseguindo ter muitos elementos, também, de uso do solo.

À medida que foi sendo implantado o Plano Serete, começaram a aparecer questões de circulação, hierarquia de vias, etc. Daí em diante a coisa foi para a frente, porque já havia disponíveis todos ou elementos, amarrados uns aos outros, em mome de um planejamento eficiente.

Biografia
Dúlcia Auríquio - Nasceu em Marechal Mallet-Pr, em 05.09.1928. Formou-se em Engenharia Civil pela Universidade Federal do Paraná em 1954. Iniciou no serviço público como Engenheira da Divisão de Planejamento do Departamento de Urbanismo, em 1960. Foi membro da Comissão encarregada da elaboração do novo Zoneamento de Uso do Solo (1961), da Comissão encarregada da revisão do Código de Posturas (1962) e da Comissão Coordenadora Central dos Trabalhos do Seminário "Curitiba de Amanhã" (1965). Participou da criação da APPUC (1965) e da implantação do IPPUC, tendo assunido interinamente a presidência deste órgão em 1968.

Nenhum comentário: